terça-feira, 27 de março de 2012

Futuro. (parte II)

Retomando um assunto deixado nas sombras no último texto, é de conhecimento geral que minha área é Humanas. Entretanto, o fantasma de Exatas me persegue. Um número extenso de pessoas já me aconselhou fazer algum curso que envolva Exatas. Pois, claro, "é mais difícil de passar e irá valorizar as suas vantagens mais importantes". Ah, não podemos nos esquecer do "o status de ser engenheiro é maior do que de um reles jornalista, e é consenso mundial que os números são superiores às letras". Ok, ok. Não estou aqui para discutir gostos, nem julgar quem prefere números. Porém, ouvir isso repetidamente me enjoa. Já estou tentando acostumar todos à minha volta que minha vocação natural é brincar com palavras, e não com contas. Funciona às vezes, mas essas frases não param de ir embora. E sabem qual é o maior problema de todos? Eu dou ouvidos à elas. Eu as levo em consideração. Principalmente quando avalio meu boletim. Sinto que, se eu escolher Humanas, irei desperdiçar a parte Exata de mim. "Não é qualquer um que tem facilidade, e se você tem, não a deixe escapar". Isso fica martelando aqui dentro. É muito tentador escolher essa área, pois além de oferecer maior status, também tem a parte do salário mais alto. Entretanto… seria eu capaz de negligenciar minha felicidade em função de coisas tão triviais quanto dinheiro e status? Ok, esse pode estar parecendo o velho discurso clichê de sempre, mas é a verdade. Tenho certeza de que não serei feliz em Exatas, pois, no meu ponto de vista, os números não enlevam tanto quanto as letras. Porém, a dúvida insiste em me perseguir, não me deixando em paz até eu escolher sensata e verdadeiramente o que é melhor para o meu "futuro brilhante".

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Pequeno Príncipe: crítica

Sim, eu estive lendo livros de criança. Porém, lá no fundo, eu ainda me considero uma, então não fez muita diferença. Essa obra de Saint-Exupéry transborda sinceridade, mensagens subliminares e doçura. A história é contada por um homem grande (lê-se adulto) que cai com seu avião no deserto, e encontra o Pequeno Príncipe lá. O menino conta a ele sobre todas as suas aventuras, e os dois acabam cativando-se. É incrível como um suposto livro para crianças faz tanto sentido para mentes adolescentes e adultas; já que os ensinamentos que são passados contém surpresas nas entrelinhas. Claro que a mente infantil não consegue captar essas metáforas escondidas, e é por isso que quando você já está crescido e lê, se emociona tanto. É doce e singelo o jeito que o Pequeno Príncipe cuida e protege sua flor (que eu interpretei como uma metonímia que represente as mulheres), e o modo que ele aprende com a raposa sobre como cativar alguém (que eu interpretei como o amor, em todas as suas formas). Com certeza, depois de ler esse pequeno conjunto de lições em forma de livro infantil, passarei a me preocupar mais com o que antes me parecia invisível.

terça-feira, 13 de março de 2012

A Empenada Verdade.

O vocábulo "verdade" em si é contraditório. Séria impossível conseguir um significado esclarecedor e válido para todas as opiniões existentes. Um claro exemplo dessa discordância é a obra "Tenro Auto-Retrato com Bacon Frito", na qual Salvador Dali se representa da maneira que ele mesmo se vê - mostrando que o real é relativo e depende inteiramente do ponto de vista. Ainda contextualizando com o quadro, é possível relacioná-lo com a poesia de Fernando Pessoa, onde em "Pecado Original" se mostra semelhante à verdade sustentada por ganchos de Dali: "sou quem falhei ser. Somos todos quem nos supusemos. A nossa realidade é o que não conseguimos nunca."
Harlan Coben, escritor de "Cilada", aborda uma visão bem delicada sobre diferentes versões da verdade. No seu romance, o autor expõe todas as possibilidades do que pode ter acontecido em um assassinato, e à medida que a história avança, as supostas afirmações se tornam mentiras.
Contudo, ainda um quarto discurso faz divergência com esses últimos três. Michel Foucault faz uma minuciosa conexão da verdade com o poder, pois de acordo com ele, a aceitação do verdadeiro pela sociedade é feita através de coerções. Nesse caso, o governo sempre estaria por trás, manipulando o real significado de tal vocábulo.
É complexo discutir a preferência de uma só acepção do que possa ser a verdade, pois ela é relativa e todas as suas visões coexistem entre si - já que seria incalculavelmente difícil generalizar opiniões tão discrepantes. O que pode-se dizer com certeza é que não importa qual o conceito, ele sempre irá basear-se em uma linguagem; seja ela plástica, narrativa ou poética. Portanto, a única afirmação realmente verossímil é que a verdade é completamente empenada.