quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, iria ao encontro de meu querido afã! Não há nada mais para ser dito, ou pelo menos não diretamente. Meu pobre coração não aguenta mais, está cansado. Descansem em paz.



Se o Mundo Acabasse Amanhã

Se o mundo acabasse amanhã, o que sobrou?
Eu teria apenas minha doce irmã,
E lembranças embaçadas de mim
Se o mundo acabasse amanhã!

Quanto desespero enorme pressinto
De almas perdidas já logo de manhã!
O arrependimento floresceria
Se o mundo acabasse amanhã!

Que sol! que céu negro! que tempestade
Cresce a natureza dantes tão louçã!
E veriam que o amor bastaria
Se o mundo acabasse amanhã!

Mas essa dor de viver que me aflige,
Toda essa tristeza, esse maldito afã...
Tudo morreria junto comigo
Se o mundo acabasse amanhã!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Registro Perpétuo

Deixarei aqui a prova do maior sentimento vivo em mim. Conheci um dia uma donzela que me salvou. Dos males da vida, da escuridão, da angústia. Ou quem sabe aumentou-os mais. Apresento-vos uma homenagem a minha adorada; literatura.


Soneto Sem Medidas à Mãe de Todos os Sonetos

O que há de maior do que um devaneio?
Digo-vos: só, talvez, a imaginação...
Que muitas vezes o tem como seu irmão!
Esp’ranças que andam juntas no recreio.

Tu, literatura, és o melhor meio
De manter-me absorto em total solidão
E de afundar-me em meu próprio coração
Ou descobrir-me no sonhar alheio.

Faço-te este soneto pelo meu amor:
Um amor sem medidas, sem contagem
Sentimento limpo inda que selvagem
Emoção essa que me sustenta; calor

Minha amada, tudo que faço é teu...
Dê-me a mão e me ilumine neste breu.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

The Anthem For a Dying Breed

Continuando a exposição há tempos querida e recentemente libertada, dou-lhes hoje o meu silencioso hino para essa raça que não mais existe, e se existe, é mais taciturna que este hino em si. Abracem esse poema, compreendam-no, entendam-no. É o que peço.


A Ternura do Sofrimento Silencioso Ignorado

Talvez seja só injustiça;
malvada.
Quem sabe inveja, ou cobiça
ou nada.

Quem é não correspondido
padece.
Pela solidão, e escondido
faz prece.

Não recebe valor algum
do mundo.
Morre, só, em apenas um
segundo.

Pois tudo isso é comprovado
por mim.
Infortúnio estouvado
e ruim.

Vivi o maior dos amores
sozinha.
Taciturna, colhi as flores
na minha.

Ninguém viu minha tristeza
gigante.
E careci da beleza
do amante.

Mas todos só se importavam
co’os outros.
“Felizes” – que não se amavam...
tão neutros.

E eu, aqui, continuei amando
sem ninguém.
Amarei tanto até quando
for além?

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Adeus Efêmero e Singelo


Não sei o que anda na minha mente por postar meus poemas assim, mas creio que a escassa produção de quaisquer outros gêneros deixa-me sem opção. Portanto, apresento-lhes meu poema número 100, feito com extremo zelo; regojizem-se:

Acabou-se o tempo dantes estipulado.
A pungência que enfrento tem se perpetuado
Na amizade ora fria – ora apaixonada!
Na vaidade ora vazia – ora inchada!

Terminou-se a habitual catarse d'alma.
Que tinha o final na linha da palma...
Tantos versos cegos já sozinha escrevi
Nos universos paralelos onde jamais vivi!

Pranteei como se o mundo caísse em mim;
Derramei frases a fundo no poço sem fim;
Amei com loucura, coração bobo e sincero!

Finei na escura canção que inda espero...
Dói despedir-me da lembrança camoniana,
Hei de sorrir-me, só, na segurança leviana.


terça-feira, 3 de julho de 2012

Devaneio Evasivo Do Eu Interior Surrealista


Estás aí? Me ouves ainda?
Lembras-se daquela memória tão linda?
Pois então. O abismo bate palmas.
A noite cai e penetra-se nas restantes almas.
Tornam-se vultos inquietos a gritar.
Trazem das cinzas as lembranças;
Que perseguem-te sem parar.
Lembras-te de quando ainda éramos crianças?

Ainda estás aí? Não tape os ouvidos, amor.
Há quanto tempo seu coração sofre com esta dor?
Sangrastes-se com o furioso espinho.
Vistes-se nas sombras assim sozinho.
As rosas perderam a fala.
As borboletas fizeram sua mala.
E tu? Fizestes o quê? Gastastes bem teus palitos?
Acendestes velas demais para ficar no escuro.
Doastes-se em beco sem saída – impuro.
Jogastes fora a vida, largada em ceras de vela.

Mas ainda há tempo, criança.
Regue teus sonhos com água d’esperança.
Guarde consigo as marcas que deixaram em teu coração.
Aquele amor, aquela canção.
Recorda-se daquela pessoa com cabelos macios e olhos de piscina?
Não a esqueça. Abrace sua sina.
Quem sabe talvez as rosas achem graça.
Talvez o abismo não seja tão profundo.
E os vultos riam e dancem e desistam da desgraça...
Vá, ande, cante na ópera do mundo
Desarme-se, abra os olhos para a felicidade...
Siga tua estrada, mas não abandone a saudade.


(Poema feito baseado no surrealismo, com a ajuda de minha querida Ana Flor.)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Olá, futuro.


Escrevi este texto para o jornal virtual da escola, mas como gostei dele quis postá-lo. E sim, não obstante tremer de medo, tenho certo gosto em escrever sobre o futuro.

Não falo aqui como membro da equipe de tecnologia, mas apenas como estudante. Uma estudante do segundo ano do ensino médio, que está próxima da enorme muralha que atende por vários nomes - desde "vestibular" até "crescimento". Só mais um ano e meio, e serei oficialmente considerada uma "adulta".
Tenho apenas 16 anos, mas já sofro com os famosos clichês de qualquer quase vestibulando: a pressão para a escolha do curso certo, o súbito amadurecimento requerido, a triste separação dos amigos de escola, e a inevitável e irreversível mudança. O futuro sempre me pareceu distante, e agora, de repente; ele chegou. Sem aviso prévio, ou sequer uma preparação psicológica.
Vejo-me lutando com inúmeras ansiedades no dia-a-dia, pois, ao mesmo tempo que espero pelo meu futuro, tenho medo de crescer. Afinal, junto com o amadurecimento, vêm as responsabilidades e obrigações. Não há como parar o relógio, mas ainda existe tempo o suficiente para aproveitar os últimos anos de escola; cujas memórias perpetuarão-se eternamente em minha alma futura.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Alto poder de penetração.


Ninguém nunca saberá o que significou para mim. Ninguém nunca saberá qual foi o impacto causado aqui dentro, e como isso me ajudou a recuperar um pouco de mim. Ninguém nunca entenderá como serviu perfeitamente, e quais foram os esforços medidos para que acontecesse.
Eu me doei. Inteira, completa. Dei minh’alma para a execução desse projeto, e mostrei-me disponível para minhas pérolas o máximo que consegui. São anjos, todos. Anjos que se uniram em prol de algo importante – no qual o elo era eu. Tentei colá-los, inseri-los dentro do quebra-cabeça; e acho que, por fim, consegui. Mas não adiantemos, melhor seguir a ordem cronológica.
Começou com a imediata disposição de todas aquelas carinhas, e senti-me feliz mesmo sem retorno ou execução, na hora. Enchia-me o peito dizer que eu fazia parte daquela trupe, mesmo sem ter nada iniciado, ou sequer concretizado. Já me abria um sorriso o simples fato de saber que estavam ali, prontos para doar-se de alma, assim como eu havia feito. Porém, apesar de tudo isto, baixei minhas expectativas, pois tinha a plena convicção de que não éramos os melhores – não em técnica.
Meu pessimismo perseguia-me, tenaz, provocando desespero e passando-me a mensagem de que o fracasso era iminente. Tentei acalmar-me, em vão, pois o fantasma da sina errada não iria largar-me. Mas procurei não transparecer meus temores inquietos, pois em hora nenhuma quis deixar minhas pérolas preocupadas.
Acabou-se então a primeira fase e a minha mente permanecia turbulenta. Esvaziei-a para melhor aproveitamento da segunda, e tornei-me mais tranquila momentaneamente. O dia foi correndo, assim como eu, sempre buscando estar em todos os lugares ao mesmo tempo, para auxiliar meus queridos e tão extremosos anjos. Procurei estar lá por eles em todos os momentos, para consertar alguma asa por ventura quebrada, ou alguma auréola talvez empenada.
Meu esforço teve resultados. Neste segundo dia já foram mais glórias – algumas que até secretamente me envolviam –, mais respostas claras às minhas perguntas tão curiosas. Para o final, resolvi repetir a dose, apesar de meu físico estar debilitado e não permitindo qualquer movimento brusco – apenas ignorei tal infelicidade e permaneci firme na esperança que depositava em cada um.
Tive o prazer de estar presente para vibrar junto em cada vã conquista, e nem por um minuto cheguei a imaginar que poderíamos erguer o símbolo máximo desta. Entretanto, cada vã exaltação foi contribuindo para a construção de uma base sólida e forte, e depois um tronco, e depois um pico. E, juntos, escalamos o que antes parecia impossível de ser alcançado, e atingimos a maior marca. Juntos lutamos, juntos comemoramos.
A união entre tantas pérolas fez o formoso colar, o qual tive o prazer de erguer gloriosamente na chuva prateada. Aquele plástico de ouro era a materialização de todo o nosso esforço, mostrando-se mais do que merecido. Aquelas duzentas garras lutaram ferozmente na busca da mais querida presa, sempre justos, sempre éticos – com mérito. Com respeito, conquistamos os louros da vitória. A maior emoção era aquela, poder ver todos os meus leões comemorando incessantemente aquele milagre vermelho, que penetrou-se todo em mim.

terça-feira, 5 de junho de 2012

O Livro das Coisas Perdidas: crítica


É plausível dizer que este livro não chegou a minhas mãos por mim, e sim por intermédio de terceiros. Algumas palavras a mais, personalizadas, feitas para mim. Cousa rara, bonita de se ver e se ler. Preciosa para mim, já que são poucos os exemplares que tenho de ações assim – tão puras e tão necessárias.
Mas vamos ao livro. Escrito pelo irlandês John Connolly, é uma obra perfeitamente construída sobre a importância da leitura e da imaginação, na vida de tanto crianças como adultos. Pois, como diz o próprio, “em cada adulto mora a criança de outrora, e em cada criança há o adulto que ela será”. O enredo se baseia na história de David, um garoto de 12 anos que perdeu a mãe recentemente e tem que lidar com as novas mudanças na sua vida – dentre elas, uma madrasta, um irmão e uma casa nova. Se sentindo esquecido pelo pai e mais sozinho do que nunca, ele se refugia nos seus livros. E, envolvido em tantas histórias e personagens, ele acaba entrando em, literalmente, um outro mundo. David penetra nesse universo novo, onde tudo é como é descrito nos seus livros, mas misturando todos eles. Ele se encontra com lenhadores, homens tortos, lobos, lobos-homens, soldados, feiticeiras; e vários outros seres que ele pensou pertencerem somente à sua imaginação. Por meio de suas aventuras, David aprende qual é o verdadeiro sentido da perda, da substituição e do crescimento.
É incrível como Connolly constrói magnificamente o mundo fantasioso que toda criança sempre sonhou, e mais ainda como insere os personagens nele. Ele mistura a fantasia com a realidade na medida certa, e dá as lições que sempre buscamos mas nunca tivemos coragem para enfrentar. Ele nos mostra o que evitamos ver, e no fim, ainda nos dá um tapa de luva sobre o que é realmente a vida e a morte. Todo adulto deveria ler esse livro, para retomar o olhar inocente que pareceu perdido no crescimento. Emocionei-me durante a leitura, e fazê-la me fez um enorme bem. Fiz as pazes com minha criança interior (apesar de ainda sê-la), e com o adulto que futuramente a habitará. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Surto de Sinceridade.


Eis aqui palavras verdadeiras quando o mais fácil é mentir. Eis aqui o máximo que pode-se fazer, seguindo os limites que as circunstâncias permitem. Eis aqui resquícios de luta, algumas perdidas, outras ganhas; mas todas com aprendizado. Eis aqui a verdade permitida, e eis aqui o escape dantes estipulado.
Difícil seria expressar oralmente tamanha desilusão, mas talvez seja isso o que precise ser feito. Mas, novamente, as circunstâncias não permitem tamanha insolência – afinal, talvez, seja atrevido demais. Talvez, talvez. A inconstância se impõe e se sobressai entre as outras sensações, e diz a todos o que fazer. A confusão se instala nos peitos vazios, e bate forte com a frequência alterada.
Pode ferir-me. Sinta-se livre para machucar-me. Estou exposta aos leões, e que seja um trocadilho, estou jogada às traças. Use-me. Ajude-me a reerguer essas antigas ruínas, enquanto sorrimos ao pôr do sol. Infiltre-se nos perigos mais profundos de minha mente, e diga-me se tudo isso é real. Desembarace-me. Acenda a faísca.
Dizem alguns que é pura implicância, mas estão errados; como todos. Dizem outros que são mudanças normais, mas estão errados; como todos. É apenas sinceridade, tardia talvez. Mas sincera, verdadeira, necessária. Chegou-se ao limite, ao ponto que não é possível mais protelar. Já deu, já acabou, e alguém precisa dizer isso logo. Que seja eu, que me matem, que me julguem – não ligo mais. Não ligo para o irrelevante. Não ligo para o que é desnecessário, ligo apenas para o que acrescenta ao mundo cousas boas – o que, felizmente, não é o caso.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Eu só preciso de tempo.

Seria plausível escrever versos sinceros, ou quem sabe recitar uma canção; mas nada disso conseguiria expressar realmente. Já tentei, já tentamos. Simplesmente existem certas cousas impossíveis de se descrever, ou explicar. Como os sentimentos (apesar de eu estar conseguindo burlar essa regra, mas este já é outro foco), as sensações; e o tempo. Ah, o empertigado tempo, como já dizia meu querido George.
O tempo, meus queridos, não é nada mais do que um poema. Uma poesia, um devaneio impertinente. Não há palavra que consiga identificá-lo, ou termo que consiga sugeri-lo. É pedra no sapato, no meio do caminho; é inspiração para Drummond. É motivo de conflito, de saudade. De nostalgia, de realidade.
O tempo é rarefeito, some nos melhores momentos e aparece com força nos piores. É seletivo, é duro, é ruim. Mas é confortante, e traz consigo uma maré de cousas benevolentes para o ser humano (estamos ignorando o fato de que não passamos de poeira cósmica insignificante, mas isso também já é outro foco).
Ultimamente ando muito preocupada com o tempo e seus efeitos em mim. Sinto a falta dele, sinto também de tardes vazias onde eu não fazia nada – mas parecia que eu fazia muito. Sinto falta de pequenas alegrias que surgiam em um dia de chuva, ou de sorrisos quebrados perdidos no espaço. Não tenho tempo mais para isso. As minhas felicidades efêmeras andam mais raras que o próprio tempo em si.
O problema é que, não obstante esse texto não ter feito sentido nenhum, não consigo encontrar saída fácil. Todos os caminhos possuem obstáculos, obviamente, mas dessa vez grande parte é necessário. Bem, necessário? Ou será simplesmente... passageiro?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Sangrento Abril.

Ontem foi uma data marcante, tanto quanto hoje, e obviamente, eu não deixaria passar. Abril é repleto de datas intrigantes, porém estas são relevantes não apenas para mim, mas também para toda a comunidade literária mundial.
No dia 23 de Abril de 1616 morria o maior dramaturgo que já existiu, o tão aclamado William Shakespeare. Suas obras (tanto em prosa quanto em poesia) perpetuam na literatura até os dias de hoje, e continuam a enlevar tanta gente com seu ritmo e sinceridade. As palavras de Shakespeare são raios de sol em um dia de verão, e seus versos tem a formosa duplicidade de conseguirem ser doces e acerbos simultaneamente – o que aumenta ainda mais a textura refinada de seus poemas. Cada palavra parece ser bordada especialmente ao papel, o que garante ao leitor um estado de transe utópico. Shakespeare está morto há 396 anos, mas tudo que sua pena tocou ainda vive, e provavelmente o fará continuamente até o fim dos dias.
Já sendo mais patriota, no dia 25 de Abril de 1852 morria um dos poetas mais jovens e mais brilhantes já nascidos no nosso querido Brasil; o doce Manuel Antônio Álvares de Azevedo, ou simplesmente Álvares de Azevedo. Sua fama pode não ter tão alto patamar quanto o último citado, porém julgo eu que sua poesia é a principal representante do ultrarromantismo brasileiro. Escritor da segunda geração romântica, ou mal-do-século, o prodígio Maneco já dominava a arte da literatura precocemente, porém foi interrompido antes que pudesse alcançar o seu ápice. Muitos dizem que, se tivesse vivido mais, ele seria o maior representante do Brasil na literatura internacional, e eu acredito nisso como acredito em suas palavras. Álvares de Azevedo escrevia com o coração, e acho que essa é a minha qualidade preferida (dentre tantas) nele. Seus versos são singelos e verdadeiros, e não há contemporâneo que consiga alcançar tanta graciosidade com tão pouca idade quanto ele.
Em Abril, devemos apenas nos curvar e saudar a falta de dois artistas tão preciosos como estes. Shakespeare e Álvares de Azevedo, mesmo mortos, ainda estão vivos – tanto no papel, quanto na nossa imaginação. Só devemos agradecê-los por nos dar tanto conhecimento, lágrimas e risos. Estaremos com eles, sempre, e tanto; como num dia de verão.

terça-feira, 17 de abril de 2012

E tudo muda com as badaladas.

Estava tudo perfeito. Porém, como a maioria das coisas boas é efêmera, o relógio marcou meia noite. Era aquela a hora em que o encanto se desfazia, e também a hora que ela precisava sair correndo dali. O devaneio formado gradualmente em sua pequenina e ingênua mente havia acabado, e as únicas remanescências dele eram as lembranças que agora já penetravam em sua pele.

Ela apenas corria, e corria sem pensar no que deixava para trás. Ele, e a ilusão doce do que poderia acontecer se aquilo continuasse. Mas não poderia. Não, não poderia; afinal era estritamente proibido. Era impossível, e ninguém acreditaria se ela contasse. Mas ela não contaria. Aquele segredo perduraria em seus lábios pelo resto de sua vida, e a cada vez que o provasse, teria um gosto diferente.

À medida que a corrida avançava, mais lágrimas amargas percorriam o seu rosto de porcelana. Ela não havia deixado explicações, apenas saira acompanhando a fúria do vento frio, deixando-o sozinho. O que ele estaria pensando? Será que ele iria querer vê-la novamente? Provavelmente, não. Aquilo não tinha passado de uma divagação com prazo de validade, e nesse caso, havia durado apenas uma noite.

Só muito longe do baile já deixado para trás que ela foi perceber que estava descalça. Apenas de um pé. Aquilo era suficientemente estranho para normalmente fazê-la parar, mas não naquela hora. O encanto já estava sumindo, e ela não podia parar de correr até chegar em casa, sã e salva daquela bagunça que criara.

Após alguns minutos, já estava deitada em sua cama maltrapilha e com os trapos habituais. Era frustrante voltar à realidade depois de uma fantasia tão terna e tão real, mas ela deveria se acostumar a essa sensação. Seu mundo não era o da imaginação, e nunca foi tão difícil aceitar isso. Deitou-se e se deixou levar pelas lágrimas, que agora vinham como cachoeiras descendo por seus olhos castanho-escuros de timbre vago. Entregou-se lentamente aos braços de Morpheu, e se permitiu, apenas por aquela noite, terminar de viver a gentil quimera que inundava seu outono.

Os raios de sol a abraçaram ao amanhecer, tentando confortá-la por toda aquela injusta retirada de presentes. Acorde, querida, não deixe que isso te derrube; eles diziam. Ela sorriu e se vestiu para mais um dia de trabalho. Nada disso a impediria de sonhar, afinal os sonhos eram o seu combustível e única razão para suportar toda aquela tortura diária.

Apesar de ainda guardar todas as memórias consigo, bem no fundo de seu emergente coração, ela sabia que eram apenas recordações de uma noite que nunca deveria ter acontecido. Eram apenas provas de que ela não havia sonhado, e eram apenas fotos não reveladas de um amor passageiramente indelével. Não aconteceria novamente, mas as marcas permaneceriam até ela conseguir outro possível vislumbre que a distraísse. O importante naquilo tudo é que ela nunca seria a mesma, afinal foi uma verdadeira princesa – mesmo que por apenas uma noite.

terça-feira, 10 de abril de 2012

December third, 2011.

Eram duas horas da tarde aproximadamente, e assim que olhei para fora do carro senti um frio na barriga. Eu tinha chegado à fila que levaria ao show da minha banda preferida. Era perfeito demais para ser verdade, e demorei algumas horas para me acostumar com essa ideia completamente utópica. Depois de mais ou menos uma hora na fila, vi uma pequena confusão se formando do meu lado. Grades colocadas pelos seguranças e milhões de garotas se batendo para ver quem ficava na frente da grade. Fiquei perguntando o que era aquilo, até que uma mulher disse que eles estavam vindo e passariam do nosso lado se não fizéssemos escândalo. Bingo, bastaram essas palavras para que meu ritmo cardíaco fosse a mil. Alguns minutos depois, eu já suando e tremendo – no meio de todas aquelas pessoas do sexo feminino – pude finalmente vê-los pela primeira vez. Primeiro o John saiu da van, me petrificando toda por dentro com toda a sua beleza. Sem antes ter tempo de me recompor, vi o cabelo do Garrett e logo em seguida Jared olhando para o meu lado. Quase caí em lágrimas quando vi o cabelo do Kennedy passando perto de mim. Me segurei, mas a tremedeira continuou durante mais meia hora. Eu já estava mais na frente na fila, e deviam ter apenas umas 50 ou 60 pessoas na minha frente. A cada minuto que se aproximava, eu me sentia mais inquieta e próxima da realização plena de mais um sonho. Aquilo estava sendo incrível! Mais tarde, com os ingressos na mão suada e as companheiras do meu lado, era impossível ficar tranqüila. Eu veria meus ídolos dentro de uma ou duas horas, e aquilo estava me matando (de um jeito bom!). Quando o relógio marcou seis horas, meu coração já estava batendo descompassado. A segurança foi liberando para entrar aos poucos, de nove em nove. Quando chegou a minha vez, não consegui me conter. Por dentro, era quase como se estivesse acontecendo uma explosão de fogos de artifício. Entrei e automaticamente meu corpo inteiro se estremeceu. O The Maine já estava lá dentro, se aprontando; e eu via no palco duas bandeiras do Brasil, uma bateria, um microfone, e várias guitarras no canto. Meus ídolos estariam lá em uma hora… Aquela sensação era surreal! Fiquei na espera por mais 60 longos minutos, que nunca demoraram tanto. Finalmente, vi vultos vindo em direção ao palco, e as luzes se apagaram para depois virem com toda a força e resplandecência. O The Maine estava se apresentando e eu ouvia os primeiros acordes de If I Only Had The Heart. Incrível. Eu estava vendo ao vivo a música que eu mais me identificava sendo tocada pela minha banda preferida. A letra daquela música era tão perfeita aos meus ouvidos, e cada verso trazia uma lembrança diferente à tona. O show foi seguindo e a cada música eu ia me sentindo mais completa. John passou do meu lado e eu consegui pegar na perna dele (até agora não sei como meu braço se esticou tanto), me provocando picos de felicidade. Logo depois, o moço das águas (me perdoem, não sei o nome dele) me jogou uma água especialmente para mim, que diga-se de passagem, passou na mão do Pat. Kennedy foi carismático e fofo durante todo o show, e disse inúmeras vezes que me amava – e à todas as fãs também. Garrett se mostrou um completo louco ao dançar em todas as partes do palco e mexer o cabelo como se fosse uma criança. Achei Jared um pouco tímido, mas não importa; eu o vi de perto mesmo assim. Pat ficou na bateria o tempo todo, mas teve um momento que ele acenou para a platéia e fez a cara que gosto tanto. Todos eles fizeram tudo valer a pena, e apenas por vê-los de perto, já ganhei todo o meu ano. Desde que comecei a escutá-los, era um objetivo particular ouvir os versos ao vivo. E eu finalmente estava conseguindo. O sonho estava se realizando, e minha felicidade ia transbordando pelos meus olhos em forma de lágrimas; e pela minha voz em forma de canto (desafinado e emocionado). Foi a melhor noite da minha vida, e mal posso esperar pela próxima vez que poderei vê-los, tocá-los e apreciá-los cantando as minhas músicas ao vivo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Encarnação: crítica

A última obra de José de Alencar é brilhante. O romance urbano segue rigidamente as regras; se passa no Rio de Janeiro, aborda o dia-a-dia da classe dominante e dá às moças dicas de como se comportar em sociedade. Hermano é um proprietário rico, porém infeliz devido ao luto constante pela sua falecida esposa. Julieta morreu devido a um aborto, e Hermano entrou em depressão profunda após perder sua alma gêmea. Depois de cinco solitários anos, o triste homem conhece Amália, uma moça rica e de beleza extraordinária. Os dois se apaixonam; Amália pelo espírito nobre e doce de Hermano, e ele pela lembrança de Julieta que via nela. O pobre homem vive em conflito, pois não consegue se libertar do fantasma da antiga esposa, e isso o impede de consumar o amor com a nova. A luta de Hermano contra ele mesmo é o que direciona a drama, e o mais interessante é como Julieta permanece viva na casa e nas memórias ali guardadas. O amor verdadeiro que tinham um pelo outro não é separado pela morte, e é esse sentimento que Alencar conseguiu representar com tanto louvor e graciosidade. O título do romance se remete à mudança que Amália se submete para ficar parecida com Julieta, e talvez conseguir o amor pleno de Hermano. Também dizem que encarnação é o que Alencar pretendia fazer com o romantismo, já que na época de lançamento do romance, o estilo estava em baixa. O autor morreu antes de ver seu livro publicado, mas podemos dizer que até hoje a história belíssima de Hermano e Amália perdura na literatura brasileira.

terça-feira, 27 de março de 2012

Futuro. (parte II)

Retomando um assunto deixado nas sombras no último texto, é de conhecimento geral que minha área é Humanas. Entretanto, o fantasma de Exatas me persegue. Um número extenso de pessoas já me aconselhou fazer algum curso que envolva Exatas. Pois, claro, "é mais difícil de passar e irá valorizar as suas vantagens mais importantes". Ah, não podemos nos esquecer do "o status de ser engenheiro é maior do que de um reles jornalista, e é consenso mundial que os números são superiores às letras". Ok, ok. Não estou aqui para discutir gostos, nem julgar quem prefere números. Porém, ouvir isso repetidamente me enjoa. Já estou tentando acostumar todos à minha volta que minha vocação natural é brincar com palavras, e não com contas. Funciona às vezes, mas essas frases não param de ir embora. E sabem qual é o maior problema de todos? Eu dou ouvidos à elas. Eu as levo em consideração. Principalmente quando avalio meu boletim. Sinto que, se eu escolher Humanas, irei desperdiçar a parte Exata de mim. "Não é qualquer um que tem facilidade, e se você tem, não a deixe escapar". Isso fica martelando aqui dentro. É muito tentador escolher essa área, pois além de oferecer maior status, também tem a parte do salário mais alto. Entretanto… seria eu capaz de negligenciar minha felicidade em função de coisas tão triviais quanto dinheiro e status? Ok, esse pode estar parecendo o velho discurso clichê de sempre, mas é a verdade. Tenho certeza de que não serei feliz em Exatas, pois, no meu ponto de vista, os números não enlevam tanto quanto as letras. Porém, a dúvida insiste em me perseguir, não me deixando em paz até eu escolher sensata e verdadeiramente o que é melhor para o meu "futuro brilhante".

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Pequeno Príncipe: crítica

Sim, eu estive lendo livros de criança. Porém, lá no fundo, eu ainda me considero uma, então não fez muita diferença. Essa obra de Saint-Exupéry transborda sinceridade, mensagens subliminares e doçura. A história é contada por um homem grande (lê-se adulto) que cai com seu avião no deserto, e encontra o Pequeno Príncipe lá. O menino conta a ele sobre todas as suas aventuras, e os dois acabam cativando-se. É incrível como um suposto livro para crianças faz tanto sentido para mentes adolescentes e adultas; já que os ensinamentos que são passados contém surpresas nas entrelinhas. Claro que a mente infantil não consegue captar essas metáforas escondidas, e é por isso que quando você já está crescido e lê, se emociona tanto. É doce e singelo o jeito que o Pequeno Príncipe cuida e protege sua flor (que eu interpretei como uma metonímia que represente as mulheres), e o modo que ele aprende com a raposa sobre como cativar alguém (que eu interpretei como o amor, em todas as suas formas). Com certeza, depois de ler esse pequeno conjunto de lições em forma de livro infantil, passarei a me preocupar mais com o que antes me parecia invisível.

terça-feira, 13 de março de 2012

A Empenada Verdade.

O vocábulo "verdade" em si é contraditório. Séria impossível conseguir um significado esclarecedor e válido para todas as opiniões existentes. Um claro exemplo dessa discordância é a obra "Tenro Auto-Retrato com Bacon Frito", na qual Salvador Dali se representa da maneira que ele mesmo se vê - mostrando que o real é relativo e depende inteiramente do ponto de vista. Ainda contextualizando com o quadro, é possível relacioná-lo com a poesia de Fernando Pessoa, onde em "Pecado Original" se mostra semelhante à verdade sustentada por ganchos de Dali: "sou quem falhei ser. Somos todos quem nos supusemos. A nossa realidade é o que não conseguimos nunca."
Harlan Coben, escritor de "Cilada", aborda uma visão bem delicada sobre diferentes versões da verdade. No seu romance, o autor expõe todas as possibilidades do que pode ter acontecido em um assassinato, e à medida que a história avança, as supostas afirmações se tornam mentiras.
Contudo, ainda um quarto discurso faz divergência com esses últimos três. Michel Foucault faz uma minuciosa conexão da verdade com o poder, pois de acordo com ele, a aceitação do verdadeiro pela sociedade é feita através de coerções. Nesse caso, o governo sempre estaria por trás, manipulando o real significado de tal vocábulo.
É complexo discutir a preferência de uma só acepção do que possa ser a verdade, pois ela é relativa e todas as suas visões coexistem entre si - já que seria incalculavelmente difícil generalizar opiniões tão discrepantes. O que pode-se dizer com certeza é que não importa qual o conceito, ele sempre irá basear-se em uma linguagem; seja ela plástica, narrativa ou poética. Portanto, a única afirmação realmente verossímil é que a verdade é completamente empenada.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cilada: crítica

"Cilada" é a primeira obra de Harlan Coben que li, mas graças a leitura da mesma, não será a última. Confesso que me atrai pelo livro devido apenas à sua capa, mas o conteúdo é infinitamente espetacular. A trama é sobre a junção de duas histórias que inicialmente não tem nada a ver uma com a outra: o sumiço repentino de Haley McWaid, uma garota normal e feliz de 17 anos; e o assassinato de Dan Mercer, que foi acusado como pedófilo em rede nacional. Porém, a repórter que o desmascarou, Wendy Tynes, passa a não ter mais tanta certeza assim de sua condenação. E, convencida de achar a verdade, ela descobre pistas que parecem peças de um quebra-cabeça: desconectadas e espalhadas em uma enorme mesa, sem parecerem ter sentido. Wendy coloca a cabeça para pensar e percebe que a verdade pode estar escondida em qualquer lugar, e não mede esforços para conseguir alcançá-la e completar o enigma. O livro é inexplicavelmente incrível, e tem a capacidade de nos prender ligado a ele durante toda a leitura. É impossível parar de ler até desvendar o mistério, e as dúvidas que ocorrem ao próprio leitor em relação a credibilidade dos personagens é insaciável. Harlan Coben foi feliz ao redigir esse romance, e posso dizer que me surpreendi com o jeito que tudo se encaixa e não deixa nenhuma lacuna aberta. A escrita foi impecável e é surreal o jeito que o autor faz com que passemos a refletir sobre a maneira que enxergamos a vida, a culpa e o perdão. Me senti submersa no mar construído por Coben, e quando sai dele, só me restou admirar a complexidade do quebra-cabeça perfeitamente montado.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A Antagonista.

O primeiro sempre é indelével. Não adianta fugir, não adianta negar. A marca que o primeiro deixou está ali, no seu canto secreto e especial, carregada de memórias. Uma gaveta, talvez. Uma gaveta com apenas memórias, já imaginou que incrível seria isso? Pois bem, a gaveta. Obviamente, ela é trancada, afinal memórias são relíquias que merecem ser guardadas com cuidado! A chave está em um pote, aparentemente comum mas surpreendentemente taciturno. Ela abre a gaveta mais valiosa do mundo, e assim que o faz, um brilho enorme pulsa e sai de dentro dela, cegando o observador. E lá dentro existem lembranças. Lembranças materializadas. Alguns papéis. Bom, muitos papéis. Dizem que o papel é o melhor jeito de escravizar uma memória, não é? Pois bem. Alguns estão escritos à mão, o que mostra que são lembranças verdadeiras! Que ótimo! Outros estão impressos, o que significa certamente momentos de pressa ou receio ou medo. Ou vergonha, dependendo do remetente. Também existe uma moeda. Moedas podem significar um milhão de coisas, mas talvez nesse caso ela seja simbólica. Talvez, apenas talvez, o dono da moeda possa a ter conquistado em um dia de glória. Esse é um bom palpite. Do lado da moeda, há um papel de bombom e um cartão (também escrito à mão). O embrulho fala por si só, assim como o cartão perdido. Tais memórias são precisas e amargas. São pungentes, porém confortantes. A gaveta ainda brilha todas as vezes que é aberta. Todas as vezes. Isso é especial, provavelmente. Desde aquela viagem, desde aquele boné. Desde aquele quarto azulejo no chão, desde aquela noite inesquecível e dolorosa. Desde o entrelaçar de mãos debaixo da mesa, desde a descoberta do antagonista (ou será 'a'?). Desde os meses torturantes, desde o fatídico dia. Duas vezes, dois anos. A ordem das coisas não pode ser mudada, tampouco suas consequências. Era para ser assim. Os caminhos escolhidos levam para os lugares destinados, e não há dúvida quanto a isso. A única dúvida restante é o porque de a culpa ainda latejar.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Por onde andam: cérebros de verdade.

Realmente? O que falta nas pessoas de hoje são apenas duas coisas básicas: personalidade própria e inteligência. O problema mor é que o pensamento e a utilização dessas duas dádivas que recebemos é opcional. E, na maioria esmagadora das vezes, as pessoas não as utilizam. Incrível como quase ninguém mais consegue se inovar. Andei reparando especialmente em determinados grupos, e percebi que, com o passar do tempo, o comportamento de todos os membros acaba se tornando padrão. Tudo que fazem é copiar, copiar e copiar. Copiar gestos, atitudes, bordões, valores, gostos e etc.. Onde foi parar a originalidade? (iremos ignorar o fato de que não se cria nada desde, provavelmente, o início do século XX) A personalidade própria das pessoas não expressa mais, não obstante ainda existirem réstias de salvação em alguns cantos obscuros (e recriminados) do mundo. Tampouco está presente a inteligência para a diferenciação entre o ridículo do esperto, o que acaba levando à atitudes completamente esperadas e triviais. A ignorância é contagiosa, como apontam os estudos, e o mal desse século - diferentemente da depressão ultrarromântica - parece ser a tão temida doença que se adquire com tamanha convivência tortuosa. A alienação consumiu o senso das pessoas, e agora deve ser tarde demais para iluminar tantos cérebros vazios.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Amanhã você vai entender: crítica

O livro de Rebecca Stead é intrigante e divertido. É um pequeno romance narrado pela garota de 12 anos Miranda, que tem uma vida normal. Porém, ela começa a receber bilhetes estranhos que parecem não ter nexo, e isso bagunça completamente a sua vida. O relacionamento de Miranda com as pessoas à sua volta é extremamente bem trabalhado, inclusive sua relação com Sal - seu melhor amigo - me lembrou vagamente de Liesel e Rudy (de A Menina Que Roubava Livros). É emocionante o jeito que ela consegue mudar para um jeito melhor, que tem mais amigos e agrada mais pessoas. Rebecca trabalhou muito bem no aprofundamento interior de seus personagens centrais, e narrou perfeitamente como uma garota de 12 anos. Os temas tratados são do cotidiano de quase toda garota, e é confortador se identificar com Miranda. A autora vai além de um amor adolescente (que aliás nem é tão focado) - também trabalha a amizade e as relações familiares. A escrita é bem delicada e nos faz pensar sobre vários assuntos que geralmente ignoramos. Com certeza, passarei mais a olhar para a minha volta depois de ter essa leitura. O tempo é exposto como algo delicado, e tenho receios que isso possa prejudicar a leitura de alguns incrédulos. Mas acho que tudo isso faz parte do jogo que ela faz com o título do livro, afinal os mistérios que se apresentam são tão complexos que só amanhã você vai entender.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Futuro. (parte I)

Frequente e ultimamente, um tema insiste em latejar em meus pensamentos. Já é de conhecimento geral que minha área é Humanas (embora esse tema ainda estar embaçado na minha mente. Mas esse assunto é para depois). Porém, apesar de supostamente ser de conhecimento geral também, meu curso ainda está meio nebuloso. Diariamente luto contra o drama: “para ser jornalista não é preciso um diploma”. Achei essa regra estupidamente desnecessária. Afinal, se já tinham pessoas exercendo essa profissão sem a confirmação de um curso (como por exemplo, ex-jogadores que se arriscavam de comentaristas na televisão esportiva), por que generalizar para todos os futuros ocupantes desses cargos? Essa atitude definitivamente prejudica o estudante em vários pontos, dentre os quais: pressão de familiares e amigos para um outro curso que necessite obrigatoriamente do diploma seja escolhido; confusão mental por estar em constante dúvida; e principalmente a desvalorização imediata do curso e da escolha. Não sei se é assim que funciona, mas apesar dessa nova regra, se eu fosse dona de um jornal, só escolheria quem tivesse um belo diploma no bolso. Afinal, por mais inteligente que o outro concorrente seja, o que já estudou antes (e melhor, em uma boa universidade talvez) terá, obviamente, uma vantagem. Além do mais, eu acho que essa decisão só teve peso em casos específicos, como por exemplo em ex-jogadores que se arriscam de comentaristas na televisão esportiva. Porém, novamente (e provavelmente para sempre), a opinião de crianças não é levada em conta. Ainda sou “muito nova para entender o mundo dos adultos, quiçá saber o que é melhor para mim e para o meu futuro”. Bom, eles deviam ter pensado nisso antes de deixar que uma criança de 18 anos escolhesse a profissão que irá seguir para o resto da vida. E isso me leva a crer que esse texto não teve sentido e nem diminuiu minhas angústias em relação ao meu “futuro brilhante”, pois não importa o quanto eu tente entender como as coisas funcionam, só irei fazer isso quando alguém tiver a boa vontade de me explicar.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Beatles Por Eles Mesmos: crítica

Primeiramente, um curto comentário: e eu que achava que não conseguiria amar mais os Beatles. Esse livro-clippling é brilhante. Conseguiu combinar a história deles com fotos (maravilhosas, diga-se de passagem) e informações completíssimas de suas carreiras. Foi possível chorar, rir e me emocionar com esse livro incrível. É contada a trajetória de cada Beatle baseada em entrevistas com eles mesmos e seus parentes mais próximos, tornando a descrição quase pessoal. Os dramas vividos por John, Paul, George e Ringo são tão bem descritos que o leitor quase os sente. A discografia completa do conjunto aparece, junto com a cronologia de seus atos e respectivos lançamentos - tornando o livro mais completo ainda. Confesso que a melhor parte são as entrevistas, que me fizeram rolar de rir. Os Beatles eram carismáticos e hilários na hora de responder os repórteres, e foi-me impossível não gargalhar alto com aquilo. Sem contar com a parte que eles mesmos escrevem, claro, pois é estonteante ler algo que foi redigido pelo punho dos quatro cavaleiros do apocalipse. Bom, sou suspeita para falar, afinal sou fã incondicional do melhor quarteto já criado. Mas o livro-clippling é delicioso de se ler, e não se torna cansativo devido às fotos espalhadas nas suas páginas. Quem já gosta dos “Fab Four” irá admirá-los ainda mais.

P.s. Posers, não leiam. A história dos Beatles é preciosa demais para ser lida por vocês. Tchau.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um Conto Feliz.

Era uma vez um garotinho. Seu nome era desconhecido por todos, pois afinal de contas ele não sabia falar. O garoto, coitado, era mudo e muito sozinho. Sua mãe tinha morrido no parto e o pai a abandonou antes mesmo de o filho nascer. O garoto sem nome era realmente muito triste e abandonado.
Ele morava em uma cidade também sem nome, debaixo de um viaduto sem nome e com um bichinho de pelúcia sem nome. Sua vida era literalmente anônima. O menino não tinha nada senão seu ursinho, e às vezes pegava um ou outro farelo de pão caído no chão. Porém, um dia tudo mudou.
O menino sem nome foi caminhar um pouco pelas ruas para pegar sol, quando de repente apareceu uma criatura estranha na sua frente. Ele não sabia direito o que era, mas também não era possível conhecer tudo, afinal ele nunca tinha ido à escola. Aquele ser era enorme e cheio de cores, e possuía quatro braços e sete pernas. Também tinha oito olhos (nunca era possível saber para onde eles estavam olhando) e três orelhas. Sua pele era meio gosmenta e alguns pêlos brilhavam à luz do sol. Não era nada comum, pensou.
O menino, diferente de todos à sua volta, não fugiu do monstro. Ele ficou lá para observá-lo, e tentar aprender qualquer coisa que fosse. Como temer o desconhecido? O garoto se sentiu triste apenas por não conseguir falar com ele, pois surgiram tantas perguntas na sua mente pequenina. E ele era incapaz de fazê-las devido a sua falta de fala.
O monstro, ao ver que apenas o menino tinha ficado, o pegou rapidamente e saiu correndo com ele em suas mãos. A velocidade ia aumentando a medida que os dois avançavam, e era claro o medo que a dupla ia provocando ao povo ali perto. As pessoas olhavam sem parar e tentavam descobrir o que era aquela cena que estava acontecendo no meio da cidade sem nome.
Depois de algum tempo, talvez horas, talvez anos; eles chegaram. Onde estamos?, o menino pensava. A criatura não falava, então a dúvida permaneceu. O lugar era deserto, e o chão era feito de folhas secas e pisadas. Pisadas por quem, se não existe ninguém aqui? O menino estava perdido e exigia saber onde estava. Portanto, começou a se remexer nas mãos do monstro para tentar demonstrar indignação. O ser estranho então apenas moveu uma de suas mãos para a boca do menino, calando-o. Vou ficar quieto a partir de agora, ele pensou raivoso.
Mais alguns passos e pronto! Agora sim tinham chegado. Aquele lugar era espetacular! A paisagem era bonita, montanhosa e cheia de árvores. Caminhos feitos de pedras redondas iam levando para casas, bem enfeitadas e delicadas. Algumas pequenas, outras maiores. Todas com uma porta e duas janelas. O ar era limpo, diferente do da cidade. Era cheio de animais voadores, mas não como pássaros, e sim como mini-pessoas aladas. Era incrível. Além de tudo, era cheio de criaturas como aquela que o segurava nas mãos enormes e peludas, mas cada uma com uma peculiaridade diferente. Alguns tinham antenas, outros mais cores, outros menos pêlos. Mas todos com o mesmo número de membros e olhos. O menino era o único humano ali presente.
Depois de andar mais um pouco, ele foi surpreendido ao ser colocado em um trono que se erguia no meio da “aldeia”. Ele não sabia se podia pensar naquilo como uma “aldeia”, por isso pensou com aspas.
O garoto então foi glorificado por todas aquelas criaturas ali presentes, e todos se curvaram para admirar sua beleza. O menino não estava entendendo. De repente, um monstro enorme parou na frente dele, o olhou com ternura e colocou delicadamente uma coroa na sua cabeça pequenina. O garoto sorriu, mas sem entender ainda. Logo depois, outro monstro – maior ainda – deu a ele um cajado cheio de penas e que fazia barulho quando chacoalhado. Antes que o menino tivesse tempo de sorrir, outro monstro – maior do que os dois anteriores – já se postava à sua frente e se agachava, fazendo uma prece aos céus. Os outros o imitaram e ficaram naquela posição por exatos dois minutos.
O monstro gigante então se levantou e os outros fizeram o mesmo. Logo depois, tirou de suas mãos um cordão com um pingente pendurado nele. Era um círculo com outro círculo dentro e assim por diante. Parecia não acabar. A criatura colocou o cordão no pescoço do menino, e ao fazer isso, o garoto soube.
Em apenas um segundo, ele sabia seu nome, de onde vinha e porquê estava ali. Ele sabia de tudo, e apenas devido àquele cordão e àquelas criaturas – que a propósito ele também sabia quem eram. Ele se sentiu poderoso pela primeira vez na vida, e finalmente sentiu que tinha achado seu verdadeiro lugar. Ele sorriu e gritou com toda a força que pôde:
- Está na hora de recomeçar! Juntos iremos alcançar o céu, se quisermos! – o garoto não pareceu surpreso ao ouvir sua própria voz, pois afinal ele sabia como ela era. Ele estava eternamente grato aos seus novos súditos, e prometeu fazer com que o mundo deles fosse o mais feliz de todos.
A partir daquele dia, o menino fez tudo que prometeu: conseguiu com que ele e seu povo alcançassem o céu – e além dele – e a felicidade eterna. Ele não era mais o garoto sem nome morando em um viaduto sem nome com seu bicho de pelúcia sem nome. Ele era o rei das criaturas mais belas do mundo, e enfim sentiu-se como sempre foi: um vencedor.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Médico e o Monstro: crítica

A obra prima de Robert Louis Stevenson é brilhante. Era de se esperar, afinal é o ápice da perfeição produzida por esse autor tão célebre. “O Médico e o Monstro” fala sobre o debate interminável entre o bem e o mal, porém dessa vez é regido por uma duplicidade quase palpável. O doutor Henry Jekyll vive em conflito com a parte malévola de seu eu interior: Edward Hyde. A transformação que o Dr. Jekyll se submete é irreal, afinal é impossível separar os dois extremos da moral humana. Porém, devido a uma poção, ele consegue realizar tal proeza, e vive em conflito com a sua outra face, materializada em uma forma deformada e conhecida como Mr. Hyde. O jogo que Stevenson fez com o nome das personagens é muito bem trabalhado e faz perfeito sentido, pois ele embutiu um “I kill” (eu mato) no nome do doutor e um “hidden” (escondido) no nome da criatura. Esse jogo de palavras mostra que Mr. Hyde é permanentemente uma parte escondida de Jekyll, e que este pode tanto amar quanto matar. A briga eterna entre o bem e o mal foi abordada do melhor jeito possível, e o clima de mistério que o “strange case” possui é o que dá um certo gás ao leitor. A perspectiva do advogado Utterson é a mais trabalhada, e já que ele não tem grandes conhecimentos sobre o que realmente está acontecendo, é como se nos acompanhasse nas descobertas sórdidas sobre a luta eterna entre Henry Jekyll e Edward Hyde. Stevenson foi esplêndido na escrita, e construiu sua obra prima ao bordar um enredo inimaginável com um vasto vocabulário escolhido a dedo para nos intrigar.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Escuridão.

A luz dela se foi. Foi-se embora, por meio de redemoinhos e multidões. Passos demorados, que se inclinavam para o lado esquerdo. Ou direito? Ela nunca sabia muito bem. Muitos números circundando sua pequena cabeça, e a criança ali instalada não perdeu tempo. Correr, correr, ela apenas queria correr! Passou pelos obstáculos e tentou encarar a verdade com a coragem de um adulto. Ela não era nem um nem outro; agora mesmo não sabia mais quem era. Uma garota confusa, talvez. Mais do que isso… Entretantos e etcs não paravam de aparecer. Mas e quanto aquela enlanguescência? Sim, ali estava, sempre presente. Junto com o arrependimento e o gosto amargo da solidão. Quanto tempo aquilo duraria? Quanto tempo mais ela demoraria para perceber que a luz já tinha se ido? Era difícil. A pressão a consumava, devagar. Os olhos de timbre triste nunca saiam de seu rosto. O sorriso também não parecia se consertar. Tinha sido quebrado há tanto tempo que ela não sabia mais como colá-lo. A cola estava ali, na sua frente, mas tinha ido embora junto com a luz. Aquela luz azul. O azul, que era dela, e dele. O azul que, junto com seu vermelho, formava o tão esperado violeta. Aquele violeta que traria as borboletas de volta para o seu jardim, que já estava tão abandonado. O regador nem se mostrava mais. Era peça perdida… Como ela! Algo em comum, pensou. Talvez não estivesse tão perdida assim. Talvez aquele cubo vermelho fosse só uma distração passageira e dolorosa. Talvez tudo fosse dar certo, afinal. Mas esse era só mais um de seus pensamentos otimistas sobre a verdade terrível da escuridão.

(16 de dezembro)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Eu Sou o Mensageiro: crítica

É impressionante como Markus Zusak não consegue nos desapontar. Confesso que comecei a leitura de “Eu Sou o Mensageiro” já sem expectativas, pois afinal não há nenhum livro que se compare ao célebre “A Menina Que Roubava Livros”. Porém, foi com felicidade que fui percebendo que ele não é escritor de um livro só. Esse romance é divertido, emocionante e real. Conta a história de Ed Kennedy, um fracassado de 19 anos que não faz nada além de dirigir seu táxi, jogar baralho e tomar café com seu cachorro fedido. Mas isso muda a partir do dia que ele recebe a primeira carta e se torna o mensageiro. Sua vida toma rumos diferentes dos de antes, e ele vai mudando pessoas à sua volta - para depois descobrir que a grande mudança foi na verdade em si mesmo. Zusak tem o poder incansável de escrever linhas reais com uma extrema sinceridade. Seus personagens são comuns, porém se tornam únicos e íntimos do leitor a medida que este avança nas páginas. A construção do livro é bem feita e nos mantém ligado completamente à ele, devido ao constante mistério que faz questão de ser apenas revelado nas últimas páginas. O único ponto que me desagradou foi o uso excessivo de palavrões (pois admito, não aprecio tal linguajar em obras), porém acho que eles foram necessários para a construção dos próprios personagens, e não vou condenar um escritor tão brilhante por um simples deslize. Enfim, o livro é bom e lhe trará boas risadas - além de emocionadas lágrimas e sorrisos.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ignorância exacerbada.

O que me irrita é a incapacidade humana de se importar com as coisas certas. Isso me inclui. Eu seria extremamente hipócrita ao não me incluir nesse grupo. Sou tão ruim quanto todos eles, ou pior. Dou importância às minhas dores, em vez de me preocupar com problemas maiores e definitivamente mais relevantes. Mas isso não me impede de ficar indignada com esses dois problemas simultaneamente. Todos se preocupando com uma matéria completamente inútil quanto química, enquanto eu estou ocupada e preocupada com situações que merecem muito mais destaque. Por quê diabos somos tão egoístas? Por quê não damos prioridade às coisas certas? Por quê não tentamos mudar algo que mereça ser mudado? Por quê não posso fazer a diferença em coisas que podem ser consertadas ao invés de me focar em problemas sem solução? Por quê sou tão idiota? Por quê somos tão idiotas? Por quê? Não acredito que não posso ajudar. Minhas palavras devem servir de algo. Minhas palavras PRECISAM servir de algo. Eu preciso fazer alguma coisa, e se essa profissão não me ajudar nisso, provavelmente irei mudar. Os valores da sociedade estão completamente invertidos. Temos seis aulas de matemática por semana, e apenas uma de sociologia; sendo que a relevância das duas está trocada. Somos condicionados a privilegiar as matérias objetivas, tais quais matemática, física e química; sendo que nenhuma delas muda o mundo do jeito que ele realmente precisa. A química não irá resolver um problema generalizado de miséria, e muito menos irá nos mostrar que ele existe. E os tolos dando tanta importância a ela... Já chega. Preciso mudar isso. Precisamos mudar isso. É de nossa mínima obrigação, afinal esse é o mundo que vocês querer ver seus filhos crescerem? Sem apelações, se controle... Mas é muito. Muita dor para ser ignorada. Muita necessidade sendo colocada em segundo, pior às vezes, terceiro ou quarto plano. Ignorância exacerbada por parte da população, que a cada dia que passa se torna mais alienada. Onde foi parar a educação desse povo? Deve ter ido embora junto com o amor próprio e o conhecimento básico. Que dor, que dor que nada! A dor que importa não está sendo mudada, não tem ajuda para ser mudada... O que houve com aqueles seres revolucionários, que agora parecem tão distantes? Sumiram dentre a fumaça causada pela indústria televisiva e controladora, ao certo. O que ainda nos resta, infelizmente, é se impressionar toda vez que vemos a realidade estampada na nossa cara; mesmo que alguns dias depois voltemos a esquecê-la.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Lira dos Vinte Anos: crítica

A coletânea de poemas feita por Álvares de Azevedo é espetacular, para dizer o mínimo. "Lira dos Vinte Anos" é o livro que ele estava terminando de preparar quando faleceu, e reune o melhor de suas obras. A Lira é dividida em três partes bem distintas, sendo o amor e a morte - românticos - os temas predominantes em todas. A primeira e a terceira parte são mais sentimentais e foram escritas em um tom mais sincero, demonstrando o constante tormento interior do poeta. A mulher é tratada de formas diferentes nessas duas partes, ora doce e angelical; e ora sensual e tentadora. Porém, em ambas ela é inacessível, deixando clara a agonia que o eu-lírico sente em não conseguir tê-la. Já a segunda parte mostra um lado nunca visto antes de Maneco, que escreve poemas sadônicos e mordazes. Ele chega a zombar de sua própria condição de amante abandonado ao escrever sobre um eu-lírico que se apaixona por uma lavadeira (É ela! É ela! É ela! É ela!); e um amante que se suja todo no caminho para ver sua Dulcinéia (Namoro a Cavalo). É incrível a maneira que Maneco conseguiu mostrar os dois lados da moeda em um único livro, sendo que a moeda é ele mesmo, tornando a tarefa mais difícil ainda. O leitor se sente submerso no mundo que Azevedo criou durante toda a leitura, e é possível sentir tanto a dor quanto o amor ali registrados em palavras. Todos os poemas são extremamente bem escritos, e a sinceridade ali exposta emociona até onde não pode mais. É praticamente impossível ler os versos perfeitos de Álvares de Azevedo e não se derramar em lágrimas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Separados por um século e meio.

E o que fazer no momento em que você descobre que sua alma gêmea morreu há 160 anos? Estou nessa emboscada… Meu Manuel! Meu Manuel Antônio Álvares de Azevedo! Meu Maneco… morto há 160 anos! Mas se eu pudesse conhecê-lo, ah se eu pudesse! Ele me convidaria para uma volta rápida na cidade, e depois de alguns encontros pegaria com delicadeza a minha mão escondida na diáfana luva… Eu coraria e depois me despediria dele com um aceno… Eu iria para casa e me derramaria em suspiros: oh! “Mas que belo moço que estás a me cortejar…” No dia seguinte, ele me surpreenderia com versos feitos para mim, e eu me entorpeceria com a sua voz doce recitando o sublime poema… Eu iria cair de amores, por ele, pelo meu Manuel… Em seguida, ele pediria minha mão ao meu pai, e eu explodiria em felicidade quando tivéssemos a aprovação. E, na mesma noite, ele iria visitar-me ao pé da minha sacada e jogaria pequenas pedras nela para me acordar… Eu levantaria e iria de encontro a ele, e talvez deixasse que ele roubasse um beijo ou dois… Eu chegaria em casa e cairia nos braços de Morpheu mais feliz do que nunca, me derretendo de amor! E então nos casaríamos e seríamos felizes até que a morte nos separasse… Mas ela já fez isso. A morte já nos separou, com 160 anos de diferença. E agora, o que me resta senão lamentar a falta eterna de minha donzela, pálida e virgem?

Conclusão: nasci na época errada e obviamente não adianta mais eu querer um Maneco pra mim, pois sei que, nos dias de hoje, ele não existe. Portanto, não me julguem por eu ter uma paixão enrustida por um poeta morto, e sim tentem entender que às vezes tudo que é preciso são palavras. Ah, e me desculpem pela sinceridade. Às vezes ela bate à minha porta e preciso deixá-la entrar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

P.S.

O que eu faço com os livros é na verdade uma resenha, mas é divertido falar 'crítica', então é isso aí.

Noite na Taverna: crítica

A única narrativa em prosa de Álvares de Azevedo representa perfeitamente o seu estilo e preferências. A história se passa em, como diz o título, uma taverna - nome antigo para ‘bar’; num clima de delírio e devaneio. O ambiente é propício para o que acontece em seguida: ébrios compartilham casos macabros que já lhes aconteceram, cujos temas são tipicamente românticos: amor e morte. Os personagens cumprem rigidamente as regras, sendo que os heróis possuem os traços ultra-românticos: cinismo, despudor e o ‘don-juanismo’ de Byron. As musas sombrias também não fogem nada dos padrões físicos: pálidas, virgens e ou estão mortas ou adormecidas. As histórias que são contadas geralmente começam de um amor profundo e idealizado, e terminam com um epílogo sangrento e fúnebre. É inexplicável o jeito que Maneco - me permitam a intimidade, me considero melhor amiga dele (risos) - nos mantém presos ao pequeno romance, através de metáforas e antíteses que entorpecem o leitor diante de tanta informação. Outro ponto extremamente relevante na obra é a imensa quantidade de intertextualidade que Maneco faz, mostrando com tranquilidade o seu extenso conhecimento em inúmeras áreas - desde línguas à leitura assídua de poetas e dramaturgos europeus. Álvares de Azevedo foi brilhante ao construir essa obra perfeita, bordada com um vocabulário de tirar o fôlego e atitudes inesperadamente surpreendentes.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Olá depois de adeus.

Olá leitores (existe algum?), estou de volta à minha cidade natal - apesar de eu preferir a que eu estava - e trouxe muitos textos, sonetos e poemas comigo. Postarei os que eu considerar relevantes e espero que gostem.