terça-feira, 17 de abril de 2012

E tudo muda com as badaladas.

Estava tudo perfeito. Porém, como a maioria das coisas boas é efêmera, o relógio marcou meia noite. Era aquela a hora em que o encanto se desfazia, e também a hora que ela precisava sair correndo dali. O devaneio formado gradualmente em sua pequenina e ingênua mente havia acabado, e as únicas remanescências dele eram as lembranças que agora já penetravam em sua pele.

Ela apenas corria, e corria sem pensar no que deixava para trás. Ele, e a ilusão doce do que poderia acontecer se aquilo continuasse. Mas não poderia. Não, não poderia; afinal era estritamente proibido. Era impossível, e ninguém acreditaria se ela contasse. Mas ela não contaria. Aquele segredo perduraria em seus lábios pelo resto de sua vida, e a cada vez que o provasse, teria um gosto diferente.

À medida que a corrida avançava, mais lágrimas amargas percorriam o seu rosto de porcelana. Ela não havia deixado explicações, apenas saira acompanhando a fúria do vento frio, deixando-o sozinho. O que ele estaria pensando? Será que ele iria querer vê-la novamente? Provavelmente, não. Aquilo não tinha passado de uma divagação com prazo de validade, e nesse caso, havia durado apenas uma noite.

Só muito longe do baile já deixado para trás que ela foi perceber que estava descalça. Apenas de um pé. Aquilo era suficientemente estranho para normalmente fazê-la parar, mas não naquela hora. O encanto já estava sumindo, e ela não podia parar de correr até chegar em casa, sã e salva daquela bagunça que criara.

Após alguns minutos, já estava deitada em sua cama maltrapilha e com os trapos habituais. Era frustrante voltar à realidade depois de uma fantasia tão terna e tão real, mas ela deveria se acostumar a essa sensação. Seu mundo não era o da imaginação, e nunca foi tão difícil aceitar isso. Deitou-se e se deixou levar pelas lágrimas, que agora vinham como cachoeiras descendo por seus olhos castanho-escuros de timbre vago. Entregou-se lentamente aos braços de Morpheu, e se permitiu, apenas por aquela noite, terminar de viver a gentil quimera que inundava seu outono.

Os raios de sol a abraçaram ao amanhecer, tentando confortá-la por toda aquela injusta retirada de presentes. Acorde, querida, não deixe que isso te derrube; eles diziam. Ela sorriu e se vestiu para mais um dia de trabalho. Nada disso a impediria de sonhar, afinal os sonhos eram o seu combustível e única razão para suportar toda aquela tortura diária.

Apesar de ainda guardar todas as memórias consigo, bem no fundo de seu emergente coração, ela sabia que eram apenas recordações de uma noite que nunca deveria ter acontecido. Eram apenas provas de que ela não havia sonhado, e eram apenas fotos não reveladas de um amor passageiramente indelével. Não aconteceria novamente, mas as marcas permaneceriam até ela conseguir outro possível vislumbre que a distraísse. O importante naquilo tudo é que ela nunca seria a mesma, afinal foi uma verdadeira princesa – mesmo que por apenas uma noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Críticas sempre são construtivas... certo?